domingo, 18 de maio de 2008

18 de Maio - Dia Nacional da Luta Antimanicomial


Hoje, ao acordar depois de uma noite muito mau dormida, lembrei-me de duas coisas imediatamente: “hoje é aniversário do Vital”, “Hoje é Dia Nacional da Luta Antimanicomial” (até rimou).
Antes de postar aqui, fui ler e buscar inspiração em outros blogs os quais tinha certeza que hoje estariam repletos de textos, imagens em "comemoração" há esse dia - não em comemoração ao aniversário, esse vou comemorar só em Julho (eu espero) - mas sim sobre a Luta Antimanicomial.
Quando realizei meu TCC em 2006 - trabalho de conclusão de curso - busquei pesquisar aquilo que me movia e me dava vontade de seguir em frente, de fazer algo como psicóloga e pessoa. Então fiz uma pesquisa cujo nome era o seguinte: "A percepção de estudantes de psicologia sobre a abertura das portas dos manicômios", pensando obviamente na desinstitucionalização da loucura. E é recorrendo a essa pesquisa hoje, que ”re”escrevo esse texto:
(...)Pode-se dizer que a loucura nada mais é que uma bagunça na constituição das idéias ou na forma de elaboração mental da experiência dos sentidos, em qualquer momento do processo de elaboração (pensamento, memória, imaginação ou vontade). Ela está relacionada ao parâmetro de normalidade existente, ou seja, louco é aquele que é diferente, excêntrico e que não segue ao que socialmente é aceito e “adequado” ao convívio social.
A luta antimanicomial foi instituída como movimento nacional em 1993, no I Encontro Nacional, em Salvador, o qual corresponde a um movimento ativista em favor dos direitos humanos transgredidos nos manicômios e seu principal objetivo é denunciar o tratamento desumano dado aos portadores de diagnóstico de transtorno mental. A mobilização de ativistas do movimento antimanicomial no Brasil culminou na reformulação do modelo tradicional psiquiátrico, visando à regulamentação das instituições psiquiátricas para que percam seu caráter manicomial.
Os serviços manicomiais destinados a portadores de sofrimento psíquico deveriam tornar-se uma rede com o objetivo de reconstrução de sentido, de produção de valor, de tempo, encarregando-se de identificar as situações de sofrimento e opressão, da reinserção do corpo social, e do consumo de produção, bem como de intercâmbio de novos papéis sociais.
A desinstitucionalização da loucura proposta por Franco Basaglia faz com que o problema da doença mental seja visto não apenas como uma questão exclusivamente científica, mas como um problema técnico, normativo, social e existencial, contrapondo-se à pratica psiquiátrica tradicional considerando dessa forma, o conjunto de possibilidades de produção de vida, de cuidado dos sujeitos concretos em sua existência-sofrimento. Basaglia aponta que no lugar das instituições psiquiátricas tradicionais, pode surgir uma rede de atenção que oferece e produz cuidados, ao mesmo tempo em que apresenta novas formas de sociabilidade e de subjetividade para aqueles que necessitam de assistência psiquiátrica .
É importante ressaltar que a reforma começa em nosso próprio mundo, no nosso imaginário, na forma como vemos e percebemos o mundo interno e externo. Para melhor compreender a abertura das portas dos manicômios é preciso praticar o exercício de se colocar no lugar do outro, como forma de ampliar a compreensão de suas atitudes podendo dessa forma, possibilitar uma relação de ajuda ao portador de sofrimento psíquico, tendo como objetivo devolver suas capacidades de decisão, de autonomia e de se sentir responsável por sua própria vida, visando sempre a reinserção social com qualidade vida. Pois substituir os serviços em Saúde Mental, não garante que as práticas deixem de ser excludentes.
Quando falamos da questão da loucura, estamos diante de uma estrutura cotidiana, silenciosa e legitimada pelo saber científico, que, desde o momento em que as bases da sociedade capitalista foram consolidadas, tomaram como função a reclusão de indivíduos que estivessem à margem dos padrões, como por exemplo, os órfãos, epilépticos, libertinos, velhos, crianças abandonadas, aleijados, religiosos, infratores e claro os loucos!
É necessário repensar os conceitos, as práticas profissionais, bem como, as relações estabelecidas entre as pessoas e a sociedade destacando a importância de orientar a formação dos profissionais a compreender que o portador de sofrimento psíquico é alguém que necessita ser assistido e possui os mesmos direitos, políticos, econômicos e sociais como qualquer outro cidadão.
A luta pela inclusão da loucura no espaço urbano tem como objetivo promover avanços nas relações familiares, comunitárias e políticas do portador de sofrimento psíquico, caracterizando dessa forma um fator importante na inclusão de diferentes modos de vida que atualmente são marginalizados em nossa sociedade. É necessário também que a loucura deixe ser entendida como um mal que precise ser banido da sociedade.
Quando ousamos dizer que algo está “certo” ou “errado”, ou caracterizamos alguém como sendo “gordo”, “esquizofrênico” ou até mesmo “louco”, estamos realizando um julgamento que parte de nossos princípios morais e éticos, avaliando dessa forma o mundo que nos cerca. Em decorrência deste fato, aquilo que é “feio”, “triste” ou “anormal” para uma pessoa, pode ser visto como “bonito”, “alegre” e “normal” para outra.
Estamos em um processo de constante transformação cultural, onde Movimentos Sociais, Leis, Programas e outras formas de serviços substitutivos ainda devem ser aperfeiçoados a fim de promover uma real inserção social ao portador de sofrimento psíquico. Lembrando que ainda há muito a ser feito, para finalizar esse texto, recorro a Nietzche para dizer que com relação à saúde mental “Fazemos realmente, e sem cessar, aquilo que não existe ainda”.
Trecho do Trabalho de Conclusão de Curso do Curso (TCC) do 10° semestre do Curso de Psicologia da Uniplac - dez 2006: A percepção de estudantes de psicologia sobre a abertura das portas dos manicômios.
Autora: Flavia Roberta Oliveira Mathias
Imagem de Arthur Bispo do Rosário
Arthur Bispo do Rosário: nascido supostamente no ano de 1911, no estado de Sergipe. Viveu 50 anos em um Hospital Psiquiátrico sob o diagnóstico de esquizofrenia paranóica. Transitava entre a lucidez e o delírio, que na maioria das vezes era de ordem mística. É considerado por muitos como sendo um artista de primeira linha dentro do cenário cultural brasileiro. A produção artística de Bispo do Rosário teve início em 1939 e se encerrou 50 anos depois com seu falecimento de infarto do miocárdio, durante esse tempo viveu na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, onde se dedicou fervorosamente à sua produção. De acordo com seu surto recebeu a missão de recriar o mundo para ser apresentado a Deus no dia do Juízo Final. Bispo utilizava a palavra como elemento pulsante “Eu já fui transparente, mas, normalmente sou cheio de cores”. http://www.ccjf.trf2.gov.br/instit/artigos/andancas.htm

Referências (eu acho que nesse “recorte” que eu fiz do meu próprio texto, os autores consultados foram esses):
AMARANTE, P. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica brasileira. Rio de janeiro: Editoria FioCruz, 2001.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Loucura, ética e política: escritos militantes. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
FOUCAULT, M. História da loucura na idade clássica. São Paulo: Perspectiva, 2004.
GOFFMAN, Erving. Manicômios, Prisões e Conventos. São Paulo: Perspectiva, 1996.
PESSOTTI, I. O século dos manicômios. São Paulo: Editora 34, 1996.
PORTOCARRERO, V. O dispositivo da saúde mental: uma metamorfose na psiquiatria brasileira. Tese de doutorado não publicada, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1990. In: VECHI, L. G. Iatrogenia e exclusão social: a loucura como objeto do discurso científico no Brasil. Disponível em:<
http://www.scielo.br/pdf/epsic/v9n3/a11v09n3.pdf>. Acesso em: maio/2006.
RESENDE, H. A política de saúde no Brasil: uma visão histórica. In: TUNDIS, S. & COSTA, N. R. (org). Cidadania e Loucura. Petrópolis: Vozes, 1987.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Meu Mundo PARALELO...


Você já pensou como seria viver em um mundo paralelo ao "mundo real"? Um mundo onde afeto, amor, carinho, entre outras coisas (eu diria tudo, ou quase tudo) é possível?
Bom, algumas pessoas podem até dizer que esse mundo já existe, porque vivemos em um mundo globalizado, em um país 'democrático', com pessoas de todas as etnias, onde se tem voz e voto etc etc etc e mesmo assim eu discordaria...
Não que no meu mundo paralelo tudo seja perfeito, não é isso, mas nele as coisas parecem se tornar mais possível, menos "julgável" pelos outros.
SAUDOSO EREP SUL!!
Bendito foi o dia que o Centro Acadêmico de Psicologia de onde eu estudei (Uniplac-Lages SC) recebeu uma cartinha convidando pra uma reunião de estudantes de psicologia, o COREP SUL (Conselho (mais conhecido atualmente como Coletivo) Regional de Estudantes de Psicologia da Região Sul do país). Fui sem saber muito bem o que era, estava meio na dúvida e desde então, muita coisa tem sido linda na minha modesta vidinha: BENDITA CARTA!
Eis que fui conhecendo pessoas de outras cidades, todas com sede de algo mais, com vontade psi, e com tantos outros sonhos. E aí, com um grupo de pessoas maravilhosas, organizei um EREP, o XV EREP Sul (Encontro Regional de Estudantes de Psicologia - Sul). Nessa época não tava menos confusa, continuava com sede, mas procurando sentido...
De lá pra cá, meu mundo paralelo existe, mesmo que apenas 4 dias do ano. É pra lá que eu vou e volto triste cada vez que acaba aquela coisa maravilhosa, e feliz por mais uma vez estar com pessoas que há muito não vejo, compartilhando e vivendo emoções intensas! Tudo bem que se eu pudesse, às vezes aumentava ele, outras colocava mais umas pessoas, outras vezes colocava uns vizinhos aqui do mundo real, mas enfim, seja como for: NADA COMO UM EREP!
E semana retrasada eu fui pro meu mundinho paralelo, onde mesmo perdida eu não me sinto perdida e na ânsia de escrever algo sobre o quão maravilhoso foi esse EREP em Passo Fundo RS, li uns tópicos no orkut na comunidade, e com lágrimas saiu esse pequeno texto que eu postei lá e agora transfiro-o para cá:

"Demorei mais de uma semana pra escrever alguma coisa sobre o que foi em mim e para mim esse EREP, e aí antes de escrever dei aquela "lida básica" nos tópicos e com lágrimas (óbvio) é que vou tentar falar um pouquinho sobre esse acontecimento/ evento/ mundo paralelo que é o EREP SUL: É impressionante o que um EREP é capaz de fazer comigo e com todo mundo que já escreveu aqui e tb nos que não escreveram...ngm é o mesmo pós EREP, o que me deixa mais feliz. Tô no meu 3° EREP, e lembro que no meu primeiro (justamente aquele famoso que organizamos em 2005 com dívidas e caralho a 4) eu sentia algo sem sentido me fazendo muito sentido, me deixando feliz e pulsando em mim algo quase inexplicável. Era uma emoção, um contentamento em juntar pessoas em prol da mesma coisa - psicologia, coletivo, conhecer pessoas, compartilhar, partilhar, reencontrar, conhecer, construir, desconstruir, nossa entre outras tantas coisas...
E de lá pra cá já nem sei se conseguiria não participar mais dos EREPs, esse lugar que eu costumo chamar carinhosamente de mundo paralelo...Ô MUNDINHU MAIS GOSTOSO!! Onde vou com amigos, reencontro outros tantos, faço sempre novos...
Essa semana eu li a seguinte frase de uma menina aqui de Lages: "não sei pq nunca tinha ido em um EREP"?! Quando li isso fiquei feliz, pq é isso que é participar do EREP: se perguntar pq nunca foi antes, ou pq demora tanto pra acontecer o próximo.
Pra finalizar queria dizer que minha depressão Pós EREP ainda não passou, e talvez só passe quando eu estiver de novo 4 dias no EREP ano que vem...quase dói pensar que é uma constante esse sentimento de "perda" depois do fim do EREP, mas fico feliz em saber da possibilidade de nos encontrarmos de novo, ano que vem! Tava maravilhosamente lindo, parabéns a COMIÉ, ao grupo que foi se fortalecendo ao longo do tempo, dos anos, dos meses e os que estão entrando agora, e irão se fortalecer nos próximos e nos próximos...Obrigada pelo carinho tb, fui muito bem recebida e estou a disposição tb, aliás, uma vez Erepeiro SEMPRE EREPEIRO!"


São esses os sentimentos que se misturam em mim no momento e que talvez, só quem tenha participado de um Encontro como esse compreenda a intensidade das emoções vividas ali...
Beijos pros Erepeiros, anos, istas, como queiram!

Imagens do XVII EREP SUL
DE”S”FORMAÇÃO um passo Fundo na/da/em Psicologia
De 1 a 4 de Maio – Passo Fundo RS

Site do XVII EREP SUL: http://www.erepsul.org/