terça-feira, 19 de maio de 2009

Loucura, Loucura: Dia Nacional da Luta Antimanicomial...

Hoje foi um dia daqueles em que quase tudo me irritou, mas mesmo assim acho importante escrever aqui algumas das minhas irritações, pelo menos as que se referem ao dia de hoje (ontem na verdade): DIA NACIONAL DA LUTA ANTIMANICOMIAL.
Acho que todo mundo por aqui sabe que eu sou psicóloga - aos que não sabiam, agora sabem! – e diferente do ano passado que escrevi sobre uma pesquisa minha na área de saúde mental, resolvi contar algumas coisinhas que tenho lido e vivenciado como profissional (e também como gente que sou), coisinhas essas tão reais quanto os dados da pesquisa anterior:
Em poucas palavras a Luta Antimanicomial (L.A.) é um movimento social que propõe uma sociedade sem manicômios com serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos ‘tradicionais’ (que acreditem, ainda existem sim), visando romper com toda a forma de pré-conceitos e de exclusão social que estão submetidos os portadores de sofrimento psíquico dentro da nossa sociedade, seja no contexto socioeconômico, seja nas formas de comunicação, seja ao acesso às políticas públicas de saúde ou as redes relacionais e afetivas, incluindo o núcleo familiar, bem como a reinserção social dos mesmos com os devidos direitos que lhe cabem como cidadãos. Esse movimento é formado por profissionais da área da saúde mental, usuários e familiares de usuários dos serviços de saúde mental ou apenas pessoas que concordem com a causa que é na verdade social. Lembrando que o portador de sofrimento psíquico podem ser EU, VOCÊ, ELES, NÓS, os depressivos, os ansiosos, os esquizofrênicos, paranóicos, etc.
Caso 1: Certa vez (ano passado) uma paciente minha (ou cliente, como queiram) me disse chorando em uma sessão de psicoterapia que não vinha se sentindo respeitada pelo seu psiquiatra - “Dr” renomado na cidade onde moro – disse que ele lhe dava as costas quando ela falava, girava na cadeira e dizia a ela que estava cansado de ouvir as histórias dela, entre outras palavras bizarras. Mesmo que fosse um delírio da minha paciente eu respeitaria e faria o q eu fiz, mas sabendo que não era falei a ela da Lei 10.216 que visa restabelecer diretos civis do portador de diagnostico de transtorno mental, bem como respeito aos mesmos entre outras coisas. Na semana seguinte minha paciente chegou apavorada ao meu consultório falando que ao mencionar a Lei 10.216 ao Dr Psiquiatra ele voltou-se para ela enfurecido chamando ela e eu de louca: “VOCÊ E SUA PSICÓLOGA SÃO DUAS LOUCAS”. Não vou aqui nem discutir as questões éticas, mas pergunto: ser louca é não ser ignorante como esse “renomado” e pseudo Doutor? Se for isso EU AMO SIM SER LOUCA!
Caso 2: Estou eu no ônibus quando uma paciente me liga no celular aos prantos dizendo que vai se matar (ela é uma suicida de fato). Converso com ela o suficiente para acalmá-la até que eu chegue ao CRAS (Centro de Referencia de Assistência Social) onde trabalha uma amiga minha, psicóloga também e que atende pelo programa diretamente a família desta paciente fazendo inclusive visitas domiciliares. Vamos até a casa dessa paciente e ao chegarmos nos deparamos com ela em crise, aos prantos, delirando, alucinando, sem comer e com uma filha adolescente sem saber o que fazer.
Fizemos um acolhimento até que ela se acalmasse e fomos atrás de recursos imediatos. Sabendo que o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) não atende pronto atendimento, somente com hora marcada, pela manhã e as próximas consultas serão agendadas somente daqui a três meses (além de alguns trabalhos específicos realizados com portadores de sofrimento psíquico), fomos ao Pronto Socorro tentar conversar com o médico da paciente para uma internação, que naquele momento era necessária. O médico do Pronto Socorro disse que não podia fazer nada, aliás, ELE NEM SABIA O QUE FAZER EM CASOS COMO ESSES. Conseguimos contato com o médico psiquiatra da paciente por telefone que perguntou se a mesma tinha Unimed, caso contrário não poderia interná-la na única Clinica Psiquiátrica da cidade que fica dentro de um Hospital Católico que estava lotada. Obviamente que se a paciente é atendida pelo CRAS, e faz psicoterapia com a Psicóloga que presta serviços para a Secretaria de Saúde da cidade (que sou eu), ela não tinha Unimed. O médico então concordou (e mesmo que não tivesse concordado nos teríamos levado ela assim mesmo) que ao menos ela fosse levada ao Pronto Socorro para fazer uma medicação pra quem sabe, se tivesse “necessidade” e uma vaga sobrando, ser internada na Clinica Psiquiátrica (porque como vocês sabem, NÃO HÁ LEITOS PSIQUIATRICOS EM HOSPITAIS GERAIS). Voltamos até a casa da paciente, levamos ela até o Pronto Socorro onde encontrou uma Técnica de Enfermagem que lhe abraçou e lhe acolheu por já saber do caso por nós duas psicólogas. No outro dia ela foi liberada pelo médico que disse a ela que não podia lhe atender porque não atendia mais pelo SUS e que não havia vaga na Clínica Psiquiátrica. Precisam de mais detalhes para compreender a situação da saúde mental na minha cidade? E tenho certeza, em outras cidades acontecem coisas tão semelhantes senão piores.

Não bastasse tudo isso eu ainda tenho que ler o Poeta Ferreira Gullar (que tem 2 filhos portadores de sofrimento psíquico) dizendo que essa Lei 10.216 é uma lei idiota e que deve ser revogada porque ela acabou com Hospitais Psiquiátricos Públicos – HOSPITAIS ESSES QUE ATENDIAM DE FORMA DEGRADANTE E DESUMANA E QUE RECEBIAM GENEROSAS VERBAS GOVERNAMENTAIS QUE ENXIAM OS BOLSOS DOS GESTORES. Ele também falou outras coisas interessantes e até paradoxais (eu gosto de paradoxos) como ser um absurdo dizer que muitas famílias internavam seus familiares para se livrarem deles (ISSO AINDA ACONTECE PORQUE EU JÁ VI) e que por conhecer muitos hospitais privados e públicos psiquiátricos sabe que eles não são tudo isso que dizem, neles NÃO HÁ CÁRCERE E NEM SOLITÁRIAS. Porém no mesmo texto que o poeta escreveu à folha de SP ele disse que as novas medicações fizeram que as clínicas perdessem o caráter carcerário (ENTÃO ELE JÁ CONHECEU UMA CLÍNICA ASSIM, COM TAL CARÁTER?) para se tornarem lugares semelhantes as casas de repouso ( engraçado que a última Casa de Repouso que eu conheci e fiz estágio foi fechada pelo Ministério Publico por não atender as exigências mínimas para atender portadores de sofrimento psíquico e lá também amarravam as pessoas que eram mais “agitadas’ e que “não sabiam se relacionar” com os demais moradores, os internos também tomavam banhos frios por “queimarem muito o chuveiro” para pegar água quente para tomar chimarrão).
O poeta também falou de Clínicas Particulares, onde tem sala de jogos, cinema entre outras coisas desse tipo (essa de fato não conheço, mas não duvido que existam, só duvido que aceitem por caridade alguém que não tenha como pagar). Bom, bem se vê que ele vive em outra realidade!

Ainda há muito a ser feito e mesmo que as práticas em saúde mental e os serviços substitutivos deixem de serem excludentes, as pessoas ainda podem permanecer excludentes, por falta de informação e conhecimento sobre as doenças mentais e as pessoas que possuem diagnóstico de sofrimento psiquico.
Torna-se cada vez mais necessário permear discussões acerca do tema saúde mental, já que a Reforma Psiquiátrica pressupõe falar na gradativa substituição do sistema hospitalocêntrico de cuidados às pessoas que padecem de sofrimento psíquico, por uma rede integrada de variados serviços que substituam o modelo hospitalocêntrico de “cura”. A reforma psiquiátrica pressupõe várias mudanças através da capacidade e a disposição dos familiares e da comunidade em conviver com o portador de sofrimento mental, uma vez que é nestes ambientes que, efetivamente, deverá ocorrer a principal reforma.
OBS: Eu não participei da caminhada do orgulho louco em São Paulo, mas EU TENHO ORGULHO LOUCO!
Viva a diferença....

domingo, 10 de maio de 2009

Estela II...

Estonteante, estranha, examinadora, espirituosa, esquisita, excêntrica, estupefata, exaltada, egoísta, evitável, exclamativa, envolvente, exacerbada, esbaforida, eventual, eclética, evaporável, eufórica, excedente, escreve, exilada, evasiva, evidente, exagerada, esquecida, evoca, eterna, evolui, entusiasmada, entre outros ES e Ex e E...
Imagem: foto do quintal da minha casa tirada por Rubia