Passados mais de 360 dias sem escrever aqui, pois eu
ainda tinha 28 anos da última vez, e agora recém trintona (ainda não descobri a
parte boa de se fazer 30 anos), vim aqui descrever uma cena linda que vi no
metrô hoje aqui em Porto Alegre, RS. Sim, tanto tempo se passou que não moro
mais em SC, moro no RS. Numa cidade diferente, nova, sigo me perdendo no lugar
novo, com uma vida nova e alguns sonhos e desejos ainda antigos. Afinal,
ninguém me disse que os sonhos deveriam ser mudados também!
Como de costume perdi “a hora”. Me arrumei o mais rápido
que pude e peguei um taxi até a estação mais próxima: estação rodoviária. O taxista
me deixou do outro lado pela primeira vez, e lá vai eu, mal tinha acordado e
tendo que adivinhar pra que lado atravessar (não é difícil, mas antes das
10:00h da manhã, tudo torna-se difícil pra mim).
Entrei na estação, sentei num banco, puxei os meus
fones de ouvido (sim, eu respeito os ouvidos dos outros) e escolhi a música
matinal. Eram pagodinhos gostosos, bom pra sair dançando e de preferência a
dois – ignoro aqui qualquer crítica ao meu gosto musical, ta aí uma das
vantagens dos 30, você se sente ileso a qualquer comentário sobre seu gosto
musical.
E veio o trem, eu quando me sento logo na frente
observo um homem e uma mulher nos bancos preferenciais. Ele com um guarda-chuva,
e ela demorei a perceber que estava com uma bengala. Preconceituosamente primeiramente
pensei que eles não teriam idade pra sentar ali, achei ela jovem e ele também. Achei
que não estivessem juntos. Tudo isso me passou pela cabeça em fração de segundos,
porque meu pensamento ali andava mais rápido que o trem.
Ela usava uma boina preta, ele uma espécie de capa de
chuva, os dois eram extremamente elegantes. Não tinham a “cara” comum das
pessoas que encontro todos os dias no metrô. De repente ele sem olhar pra ela, aproxima-se dela e murmura algo baixinho, parecia perguntar se ela estava
com sono. Ela sem olhar pra ele, sorri, faz um sinal que sim com a cabeça e parece
dormir. Até aí, tudo bem, eu só observando. De repente ela trança o braço no
braço dele, aproxima o corpo e deita a cabeça no seu braço. Ele mal se mexe, se
encosta-se a ela e deixa ela descansar.
Ele tinha um rosto de ternura e de cuidado com a
mulher. Ela tinha um rosto de fragilizada, porém de forte. Antes de ela
levantar pra descerem na estação a qual eu não lembro qual era, eles sorriram
um pro outro. Ele levantou primeiro, deu guarida pra ela levantar. Ela pegou
sua bengala e saiu com o braço entrelaçado no dele.
Não os conheço, talvez nunca mais os veja, não
conheço suas histórias, mas foi a cena mais linda e terna que vi nos últimos
dias.
E eu que li a Regina Navarro hoje mesmo dizendo que acredita que no futuro menos pessoas vão desejar se
fechar numa relação a dois e mais gente vai optar por relações múltiplas, e
concordo com isso – fiquei emocionada com uma relação que sem saber a história,
parecia aqueles finais de filmes, não com um final feliz (ela parecia ter câncer
e escondia um pouquinho de cabelo dentro da boina as vezes) mas com uma vida
toda juntos, com amor, na alegria e na tristeza mesmo...
Será isso possível, neste planeta habitado por
seres humanos????
Bju pra quem ler, em especial pra quem sentia falta dos textos: Giana e Gisele...
Depois que escrevi até a Raiva passou (quem sabe ela mereça um post só pra ela).