É difícil a gente se dar conta de quanto tem dos
nossos sentimentos – bons e ruins – naquilo que dizemos ou fazemos pros outros.
Obviamente há uma troca, um afecto, mas a consciência do que isso gera no
outro, não sei se nos damos conta no ato das nossas ações. Às vezes o insight é
rápido, às vezes demora. As vezes é leve e as vezes pesado.
Sempre tive sonhos onde era preciso o desdobramento
do corpo, para que eu resolvesse no inconsciente algumas situações. Já escrevi
cartas nunca enviadas ao destinatário, tive arrependimentos nunca ditos, alegrias
não divididas, mas com o tempo, dizer o que sinto tem sido fundamental pra
minha saúde mental. Dividir, compartilhar, dizer, dar os abraços que desejo, os
beijos, os passos... tudo isso, tem sido feito, no meu tempo, no tempo que meu
corpo e minha mente suportam.
Assim, essa ‘carta’, chegou ao destinatário, em tempo hábil de me desculpar pelos últimos dias, pelo email pessoal do chato querido, mas a coloco aqui, utilizando esse espaço pra
também dividir e compartilhar, mesmo que comigo mesma, num sábado, as 03:48 am.
(...)Espero que esteja tudo bem aí na sua caminhada e
que ela esteja suave, mais suave do que da ultima vez que conversamos.
Tenho pensando bastante em muita
coisa, mas isso que vou te escrever pensei assim que desliguei o Skype aquele
dia que conversamos sobre eu ‘acreditar’ ou ‘não acreditar’ em você, mas
demorei pra elaborar ou para querer escrever sobre, e como senti saudade sua
agora antes de dormir, resolvi te escrever.
Tem uma coisa que faço sempre, mas
que tenho exercitado ou tentado ao menos não fazer, que é falar tudo que penso.
Já descobri que isso não é necessário, a menos que a outra pessoa pergunte
minha opinião. Claro que não quero reprimir em mim algo, mas é ter consciência
que as vezes, magoar alguém não é a melhor saída pra se dizer o que pensa, e
aquele ultimo dia que conversamos, eu te magoei e juro, não tive a intenção e
peço desculpas por isso.
Nem foi preciso eu desligar o
Skype aquele dia pra chegar à conclusão de que o melhor que eu tinha a fazer,
era só ‘te ler’ e te acolher, sem julgar ou sair dizendo várias coisas.
Acontece que eu sei porque sempre faço isso, e só faço isso com quem eu tenho
um grande afeto e que ainda me afeta. E é assim que te vejo.
Equivocadamente ou não, você ainda
mexe comigo de um jeito que não sei explicar. Não é amor, ou desejo, ou
necessidade, ou talvez seja tudo isso misturado, mas é na verdade por isso, a
resposta de às vezes eu sair ‘te patrolando’, passando por cima, dizendo
inúmeras coisas. Fiquei magoada algumas vezes contigo e comigo também e talvez
ainda não tenha superado isso que aconteceu nesses últimos anos conosco. Fantasiei
muita coisa com você que não por culpa sua ou só sua, mas por minha também,
coisas que não chegaram a acontecer no campo da realidade e confesso que me
deparar com elas sem ter acontecido, não é nada agradável pra mim.
Ter estado com você, daquela
forma, foi tão maravilhoso e tão bom, que talvez de lá pra cá, falar com você
seja sempre esbarrar em algo vivo, algo que eu não quero aceitar, ou que
gostaria que tivesse tido outro tipo de fim ou de continuidade.
Ou seja, sei que às vezes falo
algumas coisas pra você quando conversamos, que na verdade são reflexo do meu
inconformismo, do meu desejo de que tudo fosse diferente e aí, não quer dizer
que necessariamente você seja ou esteja como tudo aquilo que disse naquele dia
ou em outros dias, mas quer dizer que pra mim, na minha representação, uma
representação contaminada, tu já foi um pouco daquilo que digo, pelo menos aos
meus olhos.
Mas é obvio o mundo do jeito que
eu vejo e sinto é sempre, um mundo ‘só meu’, porque ninguém o vê e sente como
eu e sei, que outras pessoas veem e sentem coisas diferentes por ti, e
valorizam essa pessoa massa que você é, mais ou melhor do que eu.
Então, não concorde sempre comigo,
não ache que eu esteja sempre certa, nem me deixe ‘acabar com sua auto estima’,
porque o que faço ou falo pra ti, é sempre contaminado pela mulher que
gosta/gostou/gostará – não sei ao certo definir – de você, e essa mulher, ah,
com certeza, faz juízos de valor equivocados quando tem sentimentos intensos.
Beijo e espero que esteja bem.
Se cuide sempre.
Tenho saudades suas.